terça-feira, 2 de março de 2010

As teorias do jornalismo no processo de construção das notícias

Pequena análise que fiz sobre algumas teorias do Jornalismo, achei q valia a pena postar...




Introdução
As teorias do jornalismo fazem parte do processo de construção da notícia, elas servem para tentarmos entender, concordando com elas ou não, qual o verdadeiro papel das notícias, seus conceitos e objetivos e como elas chegam até nós tanto no seu aspecto técnico como ético.
Nesse texto, pretendemos analisar duas teorias do jornalismo, embasadas no livro “Teoria do Jornalismo”, de Felipe Pena: Teoria do espelho e Teoria do Gatekeeper. Com essa análise, levar o leitor a refletir e questionar a tão polêmica teoria do espelho, compreendendo que a isenção do sujeito (repórter) na redação de um texto jornalístico, não é possível.
O conceito errôneo da teoria do espelho é de que o jornalismo tem que refletir a realidade, ou seja, as notícias são do jeito que a conhecemos porque a realidade assim as determina. Segundo Felipe Pena, “A imprensa funciona como um espelho do real, apresentando um reflexo claro dos acontecimentos do cotidiano. Por essa teoria, o jornalista é um mediador desinteressado, cuja missão é observar a realidade e emitir um relato equilibrado e honesto sobre suas observações, com o cuidado de não apresentar opiniões pessoais.” (PENA, 2005, P. 125).
Já a teoria do Gatekeeper, revoga essa idéia, como explica Felipe Pena sobre a teoria do gatekeeper: “O conceito refere-se à pessoa que tem o poder de decidir se deixa passar a informação ou se a bloqueia. Ou seja, diante de um grande número de acontecimentos, só viram notícia aqueles que passam por uma cancela ou portão (gate em inglês). E quem decide isso é uma espécie de porteiro ou selecionador (o gatekeeper), que é o próprio jornalista.”
Diante dessas teorias analisamos a matéria “Você tem fome de que?” retirado da revista “Na Real”, em que contextualizamos a realidade com a falsa idéia de objetividade no jornalismo.

Referência
PENA, F. Teoria do Jornalismo. São Paulo: Contexto, 2005.




Texto para análise

Você tem fome de quê?
As perspectivas para o futuro dos jovens da periferia


“A gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte” já falava a canção dos Titãs em 1987. Hoje, 22 anos se passaram e as necessidades dos jovens da periferia de São Paulo são as mesmas. Segundo dados da Fundação Seade: 65% da população entre 15 e 19 anos mora na periferia, onde faltam os mais diversos serviços públicos como: educação, cultura, lazer, empregos, esportes entre outros.
Mas como vivem esses jovens? O que pensam? Quais suas perspectivas para o futuro? Seus desejos e sonhos? As histórias que veremos agora são de jovens que sabem que as dificuldades para conseguir realizar seus objetivos são difíceis, mas lutam para que possam vencer seus maiores desafios e um dia obter o sucesso almejado.
“Hoje em dia o que mais importa para se conseguir um emprego é o Q.I (quem indica)”, desabafa Everton Costa Ferreira, de 26 anos, que mora no bairro Vila Nova Cachoeirinha. Everton está desempregado há cinco meses, para ele, emprego está cada dia mais difícil, “Estou procurando até na área de telemarketing, mesmo tendo experiência como segurança”.
As declarações de Everton fazem sentido, pois de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), a taxa de desemprego juvenil em vários bairros da periferia chega a 70% - a média para todas as idades gira em torno de 16%. Apenas na cidade são cerca de 500 mil pessoas desempregadas entre 15 e 24 anos, o suficiente para lotar aproximadamente oito estádios do Morumbi. A maioria desses jovens não estuda nem trabalha.
Perguntado sobre a possibilidade de fazer uma faculdade, Everton diz: “Faculdade não é meu forte, nunca fui de estudar, meu sonho é ter minha própria empresa, hoje em dia isso dá mais futuro que uma faculdade”. Everton mora sozinho numa casa alugada e está recebendo as parcelas de seu seguro desemprego. “Quando esse dinheiro acabar, não sei o que vou fazer”, desabafa.
“Não tenho mais expectativas”, conta a jovem Aline Lacerda de 20 anos, que mora no bairro do Jardim Penteado, como muito de seus amigos Aline estuda á noite para trabalhar de dia, mas no momento esta desempregada, “É muito difícil arrumar um emprego sem experiência”, desabafa a jovem que está do 3º ano do ensino médio. Questionada sobre qual seria seu maior sonho a jovem confessa: “Ser rica, para poder gastar muito”, (risos). O sonho de Aline está bem distante de ser tornar realidade, de acordo com Márcio Pochmann economista da Unicamp e diretor do Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada (IPEA), a desigualdade social entre os jovens está cada vez maior segundo o economista no Brasil hoje temos 37 milhões de jovens na faixa etária de 16 a 24 anos. A metade desses jovens não estuda. A outra metade que estuda está fora da série. Isso distancia mais ainda o jovem da periferia de fazer uma faculdade, pois o tempo que seria de estudo acaba se tornando exclusivamente para o trabalho.
Um Oasis da cultura
Localizado na Vila Nova Cachoeirinha, o Centro Cultural da Juventude está posicionado em um ponto estratégico, fica próximo a bairros como Brasilândia e Jardim Paulistano. Destaca-se também pela sua diversidade e qualidade de programação. O projeto foi criado em 2006 e é uma iniciativa da prefeitura, tendo como referência o já consagrado Centro Cultural Vergueiro, porém mais voltado para o público jovem. De acordo com Bruno Pastore, um dos monitores do centro cultural, a programação muda a cada mês. “Nossa programação básica é composta por teatro, cinema, shows, palestras, mas varia de acordo com o mês. Em novembro, por exemplo, a programação será feita só por nós, monitores”.
O prédio tem 8.000 metros quadrados, o ambiente é arejado e conta ainda com biblioteca, anfiteatro, teatro de arena, sala de projetos, internet livre, laboratório de idiomas, laboratório de pesquisas, estúdio para gravações musicais, ilhas de edição de vídeo e de áudio, ateliê de artes plásticas, sala de oficinas e galeria para exposições, além de uma área de convivência que os usuários podem usar para estudos ou apenas lazer. “Os usuários ainda podem usar as salas de oficinas para ensaios de teatro ou reuniões, agendando previamente. O espaço está aberto para toda a população”, destaca Bruno.
O estudante Jean Lucas, de 17anos, é um freqüentador assíduo do espaço, ele participa do curso de teatro e artes plásticas. O jovem vai ao CCJ pelo menos três vezes por semana. “As atividades ocupam muito tempo, para nós, que não temos muito que fazer por aqui, isso é muito bom”. Morador do Jardim Paulistano, o jovem também participa do projeto “Bandeirantes” o qual fornece noções de cidadania e encaminha jovens para o primeiro emprego.
Marília Pereira Lima, 20 anos, está desempregada, a jovem que já trabalhou como babá, balconista e até de faxineira pretende ocupar o tempo livre com algum curso, está na dúvida se faz teatro ou violão. Marília mora com sua mãe, e doze irmãos, todos menores que ela. “Lá em casa só quem trabalha e minha mãe, eu ajudo quando faço uns “bicos”, mas não é sempre que consigo”. O futuro profissional da jovem ainda é incerto, mas seu grande sonho é ter seu próprio negocio. “Meu sonho mesmo é ser cabeleireira profissional, pretendo fazer um curso, só me falta o dinheiro”.
No CCJ também há histórias de jovens que passaram de usuários para funcionários, esse é o caso de Barbara Pino, 18 anos. A jovem, que é monitora da Biblioteca, já foi freqüentadora do espaço. “Eu fazia curso de teatro, artes plásticas, de tanto freqüentar o lugar fui convidada a trabalhar por aqui. Hoje trabalho no que eu gosto”.
Mesmo com ótima programação e oferecendo serviços aos jovens, o centro cultural ainda não atingiu seu público alvo: o jovem da periferia. Segundo Marília Jahnel, coordenadora de programação do CCJ, o espaço não é freqüentado só por jovens do local. “É normal aparecer gente de todos os bairros de São Paulo, às vezes até de outra cidade só para conferir alguma atividade”.
Em meio a tanta violência, desemprego, preconceito e descaso com o jovem da periferia, o CCJ Ruth Cardoso se destaca por ser umas das únicas alternativas de atividades culturais do local e acaba virando um “oasis” em meio a deserto de conhecimentos em que vive hoje o jovem da periferia.

Nicolli Oliveira e Francisco Lima.

Análise
No texto acima, os autores citam diversas fontes, apontam diversos questionamentos dos jovens da periferia e citam o centro cultural da juventude Ruth Cardoso.
De acordo com a teoria do espelho, as notícias refletem os fatos, são um espelho do real. Olhando genericamente, é verdade que os jornalistas buscam relatar os acontecimentos com maior objetividade e imparcialidade possível, apenas expondo os fatos para posterior análise do leitor. Porém, como um ser humano conseguiria contar uma história sem levar em conta suas experiências passadas, que formam seu raciocínio de hoje?
Desde o momento em que nascemos, passamos por diversas situações do cotidiano, com sanções e recompensas, que constroem nossa personalidade e influência nas nossas escolhas diárias. Todos os seres humanos são diferentes e cada um interpretará os fatos de forma diferente e o jornalista, ao redigir um texto, passará, mesmo que inconscientemente, a sua própria versão dos fatos. Já o leitor, ao ler a notícia, terá a sua interpretação da já elaborada interpretação do jornalista, criando assim, uma cadeia de suposições que contrariam a teoria do espelho e confirmam a teoria do gatekeeper, em que o jornalista filtra as informações que considera mais ou menos relevantes.
No texto “Você tem fome de que?” fica nítida a seleção de notícias e informações, como por exemplo, os autores entrevistaram dezoito fontes, porém falam apenas de dez. O critério de escolha das fontes que seriam utilizadas foi o que o repórter achou mais cabível ao conteúdo do texto e da mensagem a ser passada. A escolha do local a ser reportado, também foi livre, fruto de pesquisa e eliminação dos redatores.
Como a matéria “Você tem fome de que?” foi redigida para uma revista de ordem acadêmica em um grupo de duas pessoas, podemos concluir que não houve sanções organizacionais na escolha das fontes, nem do conteúdo do texto, reforçando assim a ideia de que os redatores escolheram livremente todos os aspectos do texto, contando apenas com suas experiências de vida como critério.
A teoria do gatekeeper pode não parecer atual, pois como temos grandes empresas de comunicação, outras teorias se sobressaem a essa, como a do newsmaking, como explica Felipe Pena: “Diante da imprevisibilidade dos acontecimentos, as empresas jornalísticas precisam colocar ordem no tempo e no espaço. Para isso, estabelecem determinadas práticas unificadas na produção de notícias. É dessas práticas que se ocupa a teoria do newsmaking”.
Outra teoria que também se sobressai a teoria do gatekeeper nos dias de hoje, é a teoria organizacional, Pena diz que o trabalho jornalístico é dependente dos meios utilizados pela organização e que o jornalismo é um negócio, busca o lucro, as receitas devem superar as despesas. Gaye Tuchman também aponta: “a empresa jornalística deve tornar possível reconhecer, na multiplicidade dos acontecimentos, aquele que será eleito como um acontecimento noticiável; elaborar formas de relatar os acontecimentos de modo que não tenha que dar, para cada um, tratamento idiossincrático; organizar o trabalho, no tempo e no espaço, para que os acontecimentos noticiáveis consigam convergir e serem trabalhados de um modo planificado” (Tuchman, 1983, p. 48). Pensando por esse ponto de vista, a teoria do gatekeeper, realmente parece desatualizada, mas se pensarmos em pequenas empresas sem fins lucrativos ou mesmo trabalhos acadêmicos, como este, ela se torna mais atual do que nunca, pois não há pressão de tempo de fechamento da redação, pressão de chefes, ou até mesmo “rotinização” do trabalho. A divisão dos serviços a serem executados é feita pelo próprio grupo no qual decide quais tarefas serão feitas primeiro.
A forma mais cabível de ser aplicada a teoria do espelho no jornalismo e mais próxima da realidade é analisando reportagens alternativas, com imagens de vídeo ou fotos (sem edição), sem texto ou fala, porque assim, cada indivíduo terá a sua própria visão e interpretação dos fatos, como se estivesse presente no local. Essa é uma alternativa de total isenção do jornalista, apenas apresentando os fatos.

Conclusão
O jornalismo vive em um processo de atualização contínuo, isso acarreta constante fluxo de notícias que são produzidas diariamente, o padrão de notícias muda constantemente, de acordo com a época e as necessidades da população. Como formadores de opinião, os jornalistas estão em processo contínuo de estudo sobre os mais variados assuntos. Seria interessante se os jornalistas aplicassem diariamente as teorias do jornalismo ao processo de produção dessas notícias e por que não até mesmo criar outras teorias novas. Ao leitor cabe a função de tirar suas próprias conclusões e formar sua opinião, sempre prestando atenção à possível manipulação que alguns veículos tentar fazer com suas mentes. É impossível saber exatamente o que acontece ou o que aconteceu nos bastidores de em acontecimento. O mais próximo que conseguiremos é relatar diversas opiniões sobre um mesmo assunto para tentarmos chegar a um senso comum.
Ao revogar a teoria do espelho, mostramos que a objetividade não acontece. Por mais que o autor narre os acontecimentos, ele nunca vai contar a realidade exatamente como aconteceu. É por essa razão que a objetividade no jornalismo foi e sempre será alvo de discussão entre os jornalistas, até renomados atuantes da área, como William Bonner, insistem em afirmar que há objetividade sim.
O ideal seria que o leitor ao ler uma reportagem seja imparcial, ou seja, ele deve procurar ler não apenas uma reportagem a respeito do mesmo fato, mas ter um senso crítico e pesquisar em outros veículos para ter uma visão mais ampla do mesmo fato ou acontecimento. Com essa atitude, podemos nos surpreender e alcançar opiniões completamente contrárias umas as outras. A partir daí ele formará um pensamento próprio, no qual a sua opinião prevalecerá e não a de um jornalista ou de um veículo. Assim, seremos seres humanos conscientes e menos alienados por conseqüência da sociedade consumo, que nos consome mais a cada dia.



Referências Bibliográficas
PENA, F. Teoria do Jornalismo. São Paulo: Contexto, 2005.
TUCHMAN, G. La producción de la noticia. Estudio sobre la construcción de la
realidad. Barcelona: Gustavo Gili, 1983.

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