segunda-feira, 1 de março de 2010

A cova dos Leões

A grande mídia ao apurar os fatos políticos, peca na falta de pesquisa. Esse fato é visto inúmeras vezes quando temos um assunto que é de muita repercussão ou de interesse de toda a população. Como o caso de Sarney e os atos secretos, fato que acabou tendo uma enorme repercussão na mídia, causando até censura contra o “Estadão”, proibindo o jornal de divulgar informações sobre a Operação Faktor, mais conhecida como Boi Barrica, onde o acusado é Fernando Sarney, filho de José Sarney.
Segundo Ricardo Kotscho no livro “A pratica da reportagem” lugar de repórter é na rua, e isso normalmente não é o que acontece. Há jornalistas que por falta de tempo ou mesmo acomodados pela facilidade de pesquisa existente hoje em dia (tomando como exemplo um amigo indispensável para os jornalistas: Google) se limitam a fazer cópias quase que fiéis de matérias de outros colegas. Também seria impossível haver boa informação redigindo um texto com base unicamente naquilo que apurou de uma única fonte ou de fontes envolvidas no assunto, como lembra Rudolfo Lago, editor especial da revista IstoÉ, “Isso resultará em um texto ingênuo e que provavelmente desinformará mais do que informará o leitor”.
A cobertura política perfeita seria, utopicamente, feita por um jornalista experiente, que deve acompanhar o noticiário de outros veículos de comunicação em tempo real, pois as notícias acontecem de forma rápida e surge um fato novo a todo o momento. Ele também deve ter um amplo repertório, conhecer a fundo a história do país e sua contextualização com os dias de hoje, ter noções de funcionamento do Congresso Nacional e toda a estrutura do funcionamento dos três poderes, fazendo entrevistas que sutilmente consiga obter informações pertinentes ao assunto abordado. Tais entrevistas devem ter como entrevistados, não apenas figuras políticas e indivíduos com ligação direta com o poder, mas também, pelos anônimos, pois muitas das informações mais importantes e de maior sigilo foram obtidas com pessoas que, a primeira vista, não tem relação alguma com o poder, como por exemplo, o padeiro da esquina do Congresso, as colhedoras de assinaturas, ou mesmo a faxineira, que presencia os fatos do dia a dia do Congresso. Como diz Ricardo Kotcho em “A aventura da reportagem”, “... é preciso dar voz aos sem voz”. Além de atender a estes requisitos, o repórter também tem a necessidade de pesquisar sobre o entrevistado, não só sobre sua atuação nos dias de hoje, mas principalmente, no caso de políticos, é preciso saber quem ele foi e quem é atualmente, fazendo a contextualização de todas as atividades exercidas tanto publicamente, quanto extra oficialmente.
Claro que este repórter dos sonhos de qualquer editor não existe (se você conhecer algum me avise, ok), pois nenhum ser humano, por melhor e mais qualificado que seja, conseguiria a proeza de fazer tantas coisas ao mesmo tempo e não enlouquecer no segundo dia de trabalho. O ideal, é que o jornalista tente mesclar todos os requisitos que foram citados, mas sabendo que é impossível sempre saber de tudo ou sempre ver tudo. No Brasil, temos muitos exemplos de jornalistas que foram bem sucedidos na cobertura do poder, como o já citado e, Ricardo Kotcho, jornalista desde 1964, já trabalhou em todos os principais veículos da imprensa brasileira, também foi correspondente internacional e ganhou quatro vezes o Prêmio Esso e hoje é repórter do “IG” e da revista “Brasileiros”. Ou a cientista política e comentarista Lucia Hippolito, que atua na rádio “CBN”, “UOLNews”, “GloboNews” é autora de vários livros, como “Política. Quem faz, quem manda e quem obedece”, Escrito em co-autoria com João Ubaldo Ribeiro.
A minissérie, quer dizer, o caso “Sarney, Família e os Atos Secretos”
”O PSDB protocolou três representações no Conselho de Ética do Senado contra o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). O partido pediu ao Conselho a abertura de processo disciplinar contra o senador com base em três acusações: a de que Sarney teria intercedido pela contratação do namorado de sua neta no Senado, por ato secreto; a de que teria participado de um esquema de desvio de dinheiro de patrocínio da Petrobrás pela Fundação José Sarney; e a de que teria interferido a favor de seu neto José Adriano Cordeiro Sarney, cuja empresa operava crédito consignado a servidores do Senado. Sarney foi acusado também de uma representação registrada pelo PSOL, sob acusação de ter responsabilidade pela edição de atos secretos, que foram usados para nomear parentes de senadores sem conhecimento público e sem concurso.” Agência Estado.
Isso foi o estopim para a guerra entre jornalistas X Sarney. A mídia começou tímida com a cobertura, mas depois atuou de forma feroz tentando desmascarar novamente políticos corruptos, contando com o apoio da população. Já os poucos políticos que eram a favor de Sarney, atacaram a cobertura da mídia, como disse nosso querido também ex-presidente Fernando Collor de Melo, “Parte da mídia desse país quer fazer engolir a cada um de nós essas empulhações cometidas contra o presidente Sarney. A mídia não irá conseguir consagrar o seu intento. A mídia não irá fazer com que essa Casa se agache", disse Collor.
Sarney, não contente com as acusações, também quis aumentar a polêmica a seu respeito, atacando a mídia com a mesma ferocidade da cobertura da imprensa sobre o caso, alegando sempre ser vítima de acusações impróprias que denigrem a imagem de sua família. Afirmou que a imprensa não tem limites para a sua atuação nem respeita a Constituição ao "devassar" a privacidade dos parlamentares. No discurso feito no plenário da “Casa” fez duras críticas à imprensa e ao que chamou de “campanha nazista” contra a sua permanência no cargo. O senador disse ainda que o jornal "O Estado de S. Paulo", "terceirizou sua redação e sua credibilidade". "Ele, O Estado de S. Paulo, vem se empenhando em uma campanha sistemática contra mim, uma prática nazista de acabar com as pessoas, denegrirem sua honra e dignidade até levar os judeus a uma câmara de gás. Esse tem sido o comportamento de 'O Estado de São Paulo'", afirmou. Para finalizar o discurso, também declarou: "Que os meus colegas reflitam sobre as suas responsabilidades. Não fica bem para nenhum de nós. Eu só vim falar à Casa por causa disso, senão são os meus filhos que deveriam responder. Tenho procurado ficar calado. Sabe Deus o que tenho sofrido. Mas não posso deixar de ver uma coisa dessas e ficar calado", afirmou.


Sarneyzinho X Estadão
Dias após as declarações, o empresário Fernando Sarney apresentou um recurso judicial a Dácio Vieira, desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), pedindo que o jornal “O Estado de São Paulo” e o “portal Estadão” fossem proibidos de publicar reportagens que contenham informações da Operação Faktor, mais conhecida como Boi Barrica. Os advogados do empresário afirmam que o Estado praticou crime ao publicar trechos das conversas telefônicas gravadas na operação com autorização judicial e alegaram que a divulgação de dados das investigações “fere a honra” da família Sarney.
O curioso, é que as conversas telefônicas tinham autorização judicial para serem publicadas e, caros leitores, pasmem!, Dácio Vieira faz parte do convívio social da família Sarney, foi revelada uma foto, tirada em 10 de junho, em que estão presentes: o desembargador Dácio Vieira; sua mulher Angela; a mulher de Agaciel, Sanzia; José Sarney; Agaciel Maia; e o senador Renan Calheiros, no casamento da filha de Agaciel. Agora, caros leitores, adivinhem quem desmascarou a união: o “Estadão” é claro. Devido aos fatos, fica claro que a honra da família Sarney, já está mais que ferida, e não apenas por causa do grande vilão da história (Estadão), mas a família, conta com outro grande bicho-papão, é a população, que a cada dia, fica mais consciente e exige respostas cabíveis aos escândalos.
O senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, mostrou sua indignação com a postura do presidente, dizendo, “o que o presidente Sarney deveria fazer é dar suas razões e se defender. O que ele não deveria é tentar censurar o Estado e o restante da imprensa. Isso vai prejudicá-lo ainda mais.”
Seu colega de partido Álvaro Dias (PR) avalia que o episódio deve intensificar ainda mais a pressão contra Sarney dentro do Senado. “Isso é deplorável. É um retrocesso imperdoável. São resquícios autoritários. Desta maneira, voltaremos aos tempos da publicação de versos de Camões”, disse, referindo-se ao período em que o Estado, sob censura da ditadura militar, publicava poemas de Camões ou uma receita no lugar das reportagens proibidas.
Para o petista Eduardo Suplicy (SP), a decisão da Justiça fere princípios constitucionais. “A Constituição assegura a liberdade de imprensa, sobretudo àqueles diálogos gravados com autorização judicial. É um direito da população ser informada pela imprensa sobre diálogos que ferem a ética”, disse.
O “Estadão” foi o jornal que mais fez matérias a respeito do caso Sarney e foi o primeiro a divulgar os telefonemas, com investimento forte em revelar tramóias, com seus jornalistas passando algum tempo com as fontes para obter cada vez mais e melhores informações, mas convenhamos, será mesmo que só o coronel Sarney é corrupto? A cobertura sobre o caso foi de exímia competência, porém como jornalistas, os funcionários do “Estadão”, poderiam sim, obter maiores informações durante as investigações e denunciar o máximo de raposas corruptas possível. Talvez, a exclusividade em pautar apenas esse caso, possa não ter sido apenas ocasional. Muitas vezes, em uma empresa de comunicação, a informação pode não ser prioridade em certas ocasiões, há um jogo de interesses envolvido, não ficou tão evidente a olhos nus, mas da próxima vez, quem sabe ficamos mais atentos e consigamos perceber algo no ar...
Mesmo com todas as acusações e represálias, o presidente Sarney, não pretende renunciar ao cargo e diz que irá até o fim.
Bom, se até seus colegas senadores percebem a dimensão dos acontecimentos, por que apenas Sarney insiste na ignorânciade continuar no senado? Falta de apoio da família talvez? Não. Apenas a certeza de que novamente, tudo acabará em pizza e que em pouco tempo todos esuqeceram do passado. Deu certo com seu amigo Collor, ex-presidente do país, porque não com Sarney, ex-presidente do país e atual presidente do senado?

Um comentário:

  1. Muito bom, não gosto muito de política, mas até que me senti atraído pelo texto. O Sarney não vale nada e tenho certeza que o filho dele deve ser pior, o Estadão não fez nada de errado, apenas mostrou a todos a verdade, e com certeza o Dácio Vieira tem algum envolvimento com tudo isso.

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