terça-feira, 2 de março de 2010

Entrevista: “A dança é apenas hobby, não tem como pensar em ganhar dinheiro”




Artistas da periferia têm dificuldades em conseguir patrocínio ou apoio do governo

O break, um dos quatro elementos básicos do hip hop, tem menor difusão que outros elementos como o rap, ou o graffiti (ou grafite), mas é tão importante quanto, todos os elementos fazem parte de um só movimento de arte e cultura entre os jovens da periferia de São Paulo e do mundo.
André dos Santos, 21, trabalha como banhista em pet shop por opção. Começou a dançar break aos 11 anos de idade e vê a dança como um refúgio da violência e das drogas. Pretende estudar ecologia ou meio ambiente para tentar salvar o planeta do ser humano que a cada dia o consome mais. Em entrevista a Na Real explica o que é o break, suas concepções sobre a vida e sua não relação com as drogas.

Na Real- Quando e como você começou a dançar?
André- Comecei com um amigo, a gente andava de skate na época, eu tinha uns 11 anos. Ele acabou se mudando para outro bairro (Leme), lá que começou o break no Taboão da Serra-SP. Ele dizia que lá tinha uns moleques que dançavam e depois começou a me passar o que aprendia mesmo sem saber realmente dançar, abríamos a lona e treinávamos. Ele trazia fitas de vídeo cassete para assistirmos e imitarmos os movimentos dos americanos.

Você tem algum tipo de apoio, patrocínio ou professores?
Não. Para você conseguir um espaço para dançar, um chão liso, é muito difícil, ainda mais na minha época. Quase não existem professores, se você quiser aprender, tem que ser na rua, além disso, você nunca vai a prender a ser B. Boy profissional com professor, tudo vai depender de você, a única coisa que o professor pode te passar, são os fundamentos, só o básico.


E a família, apóia você?
Bom, minha mãe nunca foi do contra, mas também nunca arrumou um chão liso para eu dançar. Meu irmão chegou a dançar um pouco, mas parou, Tentei incentivar meu sobrinho, mas ele também parou. É difícil você aprender e pegar gosto mesmo, muita gente começa, pega gosto, treina, mas acaba desistindo por achar difícil ou perder o interesse.

Existem pessoas que dançam como profissão, ou é apenas um hobby?
Não, a dança é apenas hobby, não tem como pensar em ganhar dinheiro. Viver da dança é muito difícil, é complicado demais.

Onde você treina?
No CEU Campo Limpo, em uma escola no Embu das Artes, no projeto Escola da família e todo primeiro domingo do mês, há reuniões de B. Boys na galeria Olido, no centro de São Paulo.

Você já deu aulas de dança?
Não, só treino. Prefiro conseguir um espaço para treinar. É difícil você começar a dar aula, se esforçar e depois o aluno desistir.

Você tem um grupo de dança?
Não. Eu até tinha um “crew” (grupo), mas estava dando muita briga, resolvi desistir e continuar sozinho mesmo. Treino com um amigo só e, às vezes, no CEU, aparecem outras pessoas, de outros “crew”.

Você tem algum ídolo?
Sempre tem um profissional ou outro que a gente se inspira. Ultimamente, o movimento está mais ativo na Coréia, E. U. A, e na França. Exemplos de dançarinos perfeitos são: na Coréia têm o Fisics, nos E. U. A., o Omar e na França, o Ismael.


Você se considera bom?
(Risos) É, eu treino há muito tempo, sei que tenho presença de roda, posso entrar e sair sem receio, acho que eu vou bem.


Você tem outros projetos?
Ah, eu treinava meus pitbulls para competições, salto em distância, tração, mas parei há algum tempo. No hip hop, só danço. Já cheguei a fazer alguns graffitis, mas não continuei. Hoje em dia está tudo muito fechado, antes os quatro elementos andavam juntos. Agora é difícil haver um evento, de Mcs, por exemplo, que tenha B.boy presentes.

Você se apresenta ou só treina?
No momento, não estou fazendo nenhum tipo de apresentação porque estou sem “crew”, mas antes eu fazia, hoje está mais difícil. Apresentações exigem muita responsabilidade, tenho que me preocupar comigo, com a “crew”, com trabalho.

Qual sua visão sobre a cultura hip hop, os quatro elementos?
Algumas pessoas dizem que são cinco. Hoje em dia tem muita merda na mídia, muitos moleques começam a dançar e nem sabem o que é break, só estudando mesmo para saber. Sempre tem treta entre B. Boy e Mc, por exemplo. Os caras querem cantar e não dão espaço para a dança.

O que é Break para você?
É uma dança de rua que hoje em dia é usada mais para competições, os B. Boys criam as “crew” e treinam. Quando querem tentar ganhar um dinheiro, tem “crew” que foca mais em apresentações, só q a maioria participa de campeonatos mesmo.

E quais são os movimentos básicos?
A dança mesmo tem três fundamentos, que são: top rocking, foot work e freeze. O top rocking teve origem com o James Brown, no Bronx, por volta de 1970, e foi o primeiro passo mesmo. No Brooklin, foi criado o up rocking, que era for rock (simulando uma briga), porque o top rocking começou a ser usado como forma de provocação entre gangues que antes brigavam, depois só dançavam simulando brigas. Novamente no Bronx, os artistas perceberam que o up rocking começou a chamar mais atenção que o top rocking, então, desceram o top rocking para o chão, criando assim, o foot work. A junção destes três elementos de dança forma o break de hoje, juntamente com o freeze (congelar movimentos), um tipo de finalização e os movimentos de giro. O break tem o intuito de tirar as pessoas da marginalidade e trazer para a dança.

Já teve contato com drogas? E os outros B. Boys?
Nunca usei. De todas as pessoas que dançam que conheço, nenhuma usa. Já os meus amigos de escola que optaram por outros caminhos, a maioria, que eu saiba fuma ou usa maconha. Quando treino, não tenho nem tempo para pensar nessas coisas, só quero saber de ficar cada vez melhor, é um vício saudável, me sinto bem e sei que faz bem para mim, sei que não estou ganhando dinheiro, mas também não estou fazendo mal para mim e nem para ninguém. Drogas só atrapalham o rendimento nos treinos, nem bebo mais. Sei que a dança ajudou a não entrar nesse caminho das drogas.

Você pretende estudar? Quais são seus planos para o futuro?
Bom, acho que se eu alcançar uma boa posição no meu trabalho, fazendo um curso de tosador, nem precisarei estudar, mas penso em fazer faculdade de gestão ambiental ou ecologia, porque meio ambiente e aquecimento global são assuntos que me interessam muito e vejo pouco interesse da população, mas infelizmente, o mercado de trabalho desta área é muito pequeno. Desde a revolução industrial, o ser humano usa descontroladamente os meios de combustível fóssil e a população cresce de forma extremamente acelerada sem pensar no mundo em que vive, apenas esgotando nossos recursos naturais. O Sub-sistema (economia) cresce de forma descompassada, enquanto o sistema (Planeta Terra) não consegue acompanhar esse sub sistema, pois não se desenvolve com a mesma velocidade que a ganância humana.

7 comentários:

  1. Mto boa entrevista! Quando eramos crianças via o André dançando com Diego e companhia do bloco 1 e ele sempre mandou bem mesmo.

    Boa sorte com o blog!

    ResponderExcluir
  2. vlw..(rick)
    essa época era boa.. mais hj en dia ta melhor.., pena muitos não continuaram como eu q to até hj.
    Muito bom dança nem consigo para.
    Fico da hora essa revista... PARABENS Ni..
    só essa segunda foto ai q naum gostei ta zuada rsrs..

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. muito bom
    a dança ter que começar a ser reconhecida no país e investimentos tem que ocorrer para as pessoas não desistirem e sim procurarem um lugar ao sol.

    ResponderExcluir
  5. Muito legal. Lembro do Diego dançando em cia do André, de fato dança muito bem. =)

    ResponderExcluir
  6. Gostei da entrevista...
    O andré manda bem.
    Lembro dele dançando na escola ¨Nigro Gava¨
    by: Thiely

    ResponderExcluir
  7. Muitas pessoas que tem realmente talentos, acabam perdendo as oportunidades que existem, por falta de conhecimento, mais isso é reflexo da nossa política publica, que não pensa na comunidade como pessoas que querem vencer e tem disposição como vejo no André, e sim como objeto, numeros e fonte de riquesas próprias, sei das dificuldades, mais na prefeitura de São Paulo existem projetos aprovados na câmara que obriga a prefeitura a financiar projetos esportivos e culturais, é dificil, mais com um bom projeto em mãos é possivel alcançar objetivos através da dança. Muito boa a matéria e PARABÉNS ao André que torna real o desejo de fazer oq gosta. Ah! e eu trabalho no CEU Campo Limpo, sempre vejo a galera treinando la..rs

    ResponderExcluir